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Escravidão, doença e morte ontem e hoje no Brasil

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Maio/2017

Escravos em plantação de café. Fotografia de Marc Ferrez, c. 1882. Acervo IMS. Clique para aumentar.

Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, decretando a libertação dos escravos no Brasil. Mas a comemoração da data é controversa. Na página da Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura, lê-se:

“Apesar de um lado da história falar que a generosidade de uma princesa pôs fim ao período escravocrata, os negros afirmam que o fim desse regime foi dado pela luta dos escravos e pela resistência que já durava vários anos. (…) Assim como as outras leis já assinadas como a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei do Sexagenários (1884), a Lei Áurea também não garantiu o fim da escravidão, pois os ex-escravos foram descartados, ficando sem emprego, sem terras, sem documentos e novamente obrigados a trabalhar em locais que pagavam pouco, porque era tudo o que lhes era oferecido. Outra opção era permanecer na casa de “seus” senhores para terem o que comer, pois a própria lei não tinha quaisquer dispositivos que garantissem oportunidades justas para os negros. Hoje, 128 anos após a ‘abolição’, há reflexos desse período. O negro saiu da senzala e foi jogado na favela, onde reproduziram-se as mazelas sociais do desemprego, da falta de moradia, da péssima qualidade de saúde e educação, da discriminação racial e da falta de oportunidades.”

Outro questionamento sobre o suposto fim da escravidão diz respeito à persistência do trabalho escravo contemporâneo, fenômeno que se constata nos meios urbano e rural e atinge migrantes e imigrantes, que deixam sua terra natal por falta de condições de sobrevivência em diversos sentidos.

Muitos acabam nos canaviais, como na época da escravidão, cortando quinze toneladas de cana por dia, debaixo de sol forte. No trabalho, sofrem acidentes como cortes, queimaduras, ao colocarem fogo na cana, e picadas de animais peçonhentos. Diante do trabalho exaustivo e das péssimas condições de vida, uns morrem e outros adquirem doenças como câncer e hérnia de disco, sendo então descartados pelos usineiros e relegados à miséria ou à dependência de outras pessoas ou instituições, como mostra Antonio Alves de Almeida em sua tese de doutorado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), intitulada Marcados pela desigualdade: o trabalho escravo na cana-de-açúcar no Estado de São Paulo (1995-2010).

As condições de saúde e vida dos escravos em São Paulo, mas no século XIX, foi tema da pesquisa de Carlos A. M. Lima, professor do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná, que publicou em HCS-Manguinhos o artigo Fronteira, cana e tráfico: escravidão, doenças e mortes em Capivari, SP, 1821-1869 (vol.22, no.3, jul./set. 2015). Lima aborda as mortes e doenças de escravos no município canavieiro paulista de Capivari, associando as causas atribuídas a esses falecimentos ao contexto social e econômico e às características das comunidades escravas locais. O artigo enfatiza o impacto da malária, relacionando-o às faixas etárias, ao ambiente criado pela lavoura canavieira e à evolução da ocupação do local, e explora o relacionamento entre doença e processos de trabalho, assim como a mortalidade pós-desembarque de africanos e a possibilidade de crises de mortalidade.

Veja fotos de escravos por Marc Ferrez com texto de Lilia Moriyz Schwarcz no site do IMS 

Leia em HCS-Manguinhos:

Fronteira, cana e tráfico: escravidão, doenças e mortes em Capivari, SP, 1821-1869, artigo de Carlos A. M. Lima (vol.22, no.3, jul./set. 2015).

Relatos de Luís Gomes Ferreira sobre a saúde dos escravos na obra Erário mineral (1735), artigo de Alisson Eugênio (vol.22, n.3, jul./set. 2015)

Suplemento Saúde e Escravidão (vol.19  supl.1 dez. 2012)
Treze artigos do suplemento temático revelam como viviam, adoeciam, eram curados ou morriam os escravos e libertos no Brasil.

Sobre escravos e genes: “origens” e “processos” nos estudos da genética sobre a população brasileira. Artigo de Elena Calvo-González (vol.21, no.4, dez 2014)


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