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Channel: História, Ciências, Saúde – Manguinhos
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Saber indígena e outras ciências na Companhia de Jesus

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Setembro/2014

Tida como reacionária e opositora dos avanços científicos por mais de quatro séculos, a ordem jesuíta Companhia de Jesus começou a ter sua fama modificada a partir dos anos 1990, quando novos estudos historiográficos passaram a destacar o papel dos jesuítas na história intelectual do Renascimento e sua influência no conhecimento médico e farmacêutico. Pesquisas recentes afirmam que os jesuítas promoveram avanços científicos consideráveis a partir de sua atuação na América Latina.

No artigo “A abordagem historiográfica dos séculos XIX e XX sobre a atuação de médicos e boticários jesuítas na América platina no século XVIII”, publicado em História, Ciências, Saúde-Manguinhos (vol.21 n.2  abr./jun. 2014), Eliane Cristina Deckmann Fleck discute a contribuição da Companhia de Jesus ao pensamento e ao desenvolvimento científico na região. A historiadora, que é professora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, enfoca e compara as posições de quatro autores – o médico Pedro Arata, o naturalista e botânico Moisés Santiago Bertoni e os padres jesuítas Carlos Leonhardt e Guillermo Furlong – em obras escritas entre 1890 e fins de 1950.

As obras analisam o conhecimento médico, farmacêutico e botânico dos missionários jesuítas nos séculos XVII e XVIII e avaliam a contribuição dos saberes indígenas para a farmacopeia americana a partir de catálogos de plantas medicinais e de tratados de medicina e de cirurgia produzidos por jesuítas ao longo do século XVIII, que circularam pelos vários continentes em que atuaram.

O contato com os índios fez dos jesuítas conhecedores de métodos curativos de origem indígena. Coleção Hariberto de Miranda Jordão

O contato com os índios fez dos jesuítas conhecedores de métodos curativos de origem indígena.
Coleção Hariberto de Miranda Jordão

A incorporação dos conhecimentos indígenas pelos jesuítas começava com a aprendizagem das línguas indígenas, dos costumes e do entorno. Passavam então a cultivar plantas medicinais em jardins botânicos anexos aos hospitais e colégios e a experimentar compostos em pacientes, sistematizando toda a informação por escrito.

A primeira botica pública de Buenos Aires, com laboratório, despensa de medicamentos e uma pequena horta de plantas medicinais, pertencia a jesuítas. Além da importância na área médica e botânica, os jesuítas também teriam contribuído para avanços em etnologia, história, geografia, cartografia, astronomia e física.

“Apesar da significativa produção dos membros da Companhia de Jesus a respeito da natureza e dos costumes das gentes do Novo Mundo, poucos foram os historiadores que se dedicaram a analisá-la levando em conta seu papel na história intelectual do Renascimento e dos inícios da era moderna. A maior parte da produção historiográfica acerca da ordem jesuíta debruça-se sobre as estratégias de catequese que os missionários empregaram com as populações indígenas, dedicando-se, primordialmente, à análise de sua atuação como religiosos, desvinculando-os de qualquer atividade ou elaboração científica”, afirma a autora.

Leia em HCS-Manguinhos:

A abordagem historiográfica dos séculos XIX e XX sobre a atuação de médicos e boticários jesuítas na América platina no século XVIII - artigo de Eliane Cristina Deckmann Fleck


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